ADRENALINA

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ADRENALINA

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ADRENALINA

“O estresse é o resultado de o homem criar uma civilização que, ele, o próprio homem já não mais consegue suportar”.

Dr. Vladimir Bernik

(Estresse: O assassino silencioso)

Como educar para que uma droga natural e imprescindível para a vida não se torne uma arma para a morte.

Lembro-me de um experimento feito com ratos num laboratório, onde eles se reproduziam em espaço limitado. Quando começaram a sentir a falta de espaço ou comida, algumas caíram em estados depressivos, isolavam-se nos recantos e se deixavam morrer, em tanto outras se matavam entre si.

A adrenalina, droga gerada pelo organismo em casos de medo é o recurso necessário e imprescindível para a defesa. Se não fosse assim, a espécie humana teria se extinguido. Os nossos ancestrais moravam em cavernas y a reação perante o perigo era automática.

Atacar ou correr.

Mas a luta pela sobrevivência era só para se defender das ameaças naturais?

Também era necessária a defesa contra o homem.

Mesmo havendo espaço de sobra, devia-se brigar pela terra que proporcionava a comida. Cada tribo tinha seu próprio território, fosse para preservá-lo ou amplia-lo.

Isto nos explica a antiga tradição do “guerreiro” e as qualidades morais que historicamente o distinguem. Podemos supor que naquele tempo, cada indivíduo de um grupo humano devia aprender a se comportar respondendo a esse meio ambiente. Talvez fosse o início do que hoje entendemos por educação.

Desde a antiguidade até meados do século passado a guerra por diferentes motivos era um assunto de adrenalina pura. Enaltecer o território e empolgar as multidões era simples e bem organizado. Até as mães despediam com alegria aos seus filhos e recebiam orgulhosas as condecorações.

Espalhavam-se as glórias e a emoção por defender a pátria. Porém, as baixas, as mutilações, os escombros e a triste comprovação de tudo ser uma farsa para manter poderes e fábricas que se enriqueciam com o sangue derramado, foram decepcionando cada vez mais pessoas.

Houve alguma mudança nos sistemas educativos, perante essa decepção?

Nos anos 80 a UNESCO falava em “desarmar mentes para armar a paz” e propunha, dentre várias reformas, eliminarem dos livros de ensino toda frase de conteúdo bélico e exaltação nacionalista desmedida.

Procurava-se o desarmamento e a união dos povos e as raças do mundo. Já passaram mais de 60 anos desde os horrores de Hiroschima e Nagazaqui e milhões de barbáries.

Hoje as guerras não são glorificadas e o mundo entra em pânico porque sabemos que existe um armamento nuclear capaz de destruir o planeta várias vezes.

No entanto, a vida acorda a cada dia com sua arquitetura moderna de arranha-céus, grandes autopistas, luxuosas vitrinas, etc., etc., e muitos, demasiados, acordam nas madrugadas arrumando papelões, farrapos e colchões para poder seguir “vivendo”. Milhões de crianças no mundo nascem na violência, fome, prostituição, analfabetismo, nascem sem possibilidades e o que é pior, segundo dizem os cientistas, os neurônios morrem após os primeiros anos de vida de uma criança desnutrida, fato que poderíamos qualificar de genocídio.

Eles desconhecem desde o berço outra vida melhor, desconhecem o conforto, a boa alimentação, a família, o amor e muitos nascem “casualmente” e terminam sendo um estorvo. Esperanças, projetos, ideais? Com fome e incultura não é possível sonhar. Aqueles que nascem nestas condições têm praticamente vedada a possibilidade de evoluir. Neste panorama decadente da sociedade o estresse e a violência são características. Mas toda situação de risco produz adrenalina.

A violência individual, o terrorismo, a violência em centros de ensino, a destruição de famílias, a falta de trabalho, os jovens que continuam achando nas drogas sua válvula de escape. Aqueles que nascem em famílias “normais” também não se liberam do estresse causado pela insegurança do desemprego.

E os medos se agigantam.

A cada dia há mais crianças abandonadas. A mídia explora a situação e reitera permanentemente todo ato delitivo, o horror é cada vez maior e as notícias escorregam sangue. Tudo isso produz pânico coletivo sem contar as agressividades que temos que viver por causa dos desastres naturais. A mídia pode e deve colaborar para uma mudança de mentalidade. Pode e deve dedicar mais tempo à divulgação de fatos louváveis e não insistir tanto no delitivo e o macabro. .

Com este panorama visto muito superficialmente (há bibliotecas sobre o tema) não podemos imaginar uma sociedade sadia. È que o problema vai muito além da pobreza extrema e a marginalidade. Jactamos-nos de que hoje as crianças nascem com os olhos já abertos. Apenas saem do conforto do ventre materno, a maioria deverá se adaptar rapidamente ao estrondo dos aparelhos de áudio, buzinas, gritos e todo o caos que a sociedade moderna produz além do que foi dito anteriormente.

O resultado?

Um número elevado de crianças hiper-ativas. Se todos os medos e inseguranças produzem um estado natural de defesa (instinto de conservação) gerado por uma substância química chamada adrenalina, se pensarmos que a natureza e a sociedade sempre foram e seguirão sendo agressiva ao indivíduo, podemos chegar a uma conclusão.

A ADRENALINA é uma droga natural necessária, mas como toda droga pode produzir hábito e a necessidade de obtê-la. E caso não encontrar a forma de dosificá-la, possivelmente cada vez mais pessoas necessitem essa ansiedade, essa vertigem que algumas situações produzem.

È possível que sem tomar conta, a agressividade nas escolas, ruas e muitos centros de ensino, como o estamos vivendo, se torne normal buscando a adrenalina. É claro, isso vai depender do meio ambiente em que o indivíduo estiver se formando ou que já foi formado.

Se o meio é violento, então talvez, por exemplo, um passeio calmo em contato com a natureza, para muitos poderá resultar bastante aborrecido por falta de “emoção”. Um caso real. Uma mãe que educava seus filhos para “a não violência” (não lhes comprava brinquedos bélicos), observando que os meninos eram vítimas de piadas e agressões por parte de vários companheiros na escola, consultou um psicólogo.

O psicólogo lhe disse: “Senhora, você não pode desproteger seus filhos, está criando meninos pacíficos para um mundo violento”. Ficamos pensando.

Se nos prepararmos todos para a violência, qual é a sociedade que nos espera?

A adrenalina produzida por um ressentido social pode chegar a ser uma arma mortal. O perigo inicial da nossa espécie já é bem longe. Hoje os perigos são diferentes.

Qual é a forma de identificar os verdadeiros riscos?

Tem-se dito até o cansaço que o pior inimigo do homem é o homem.

Uma verdadeira educação deveria aprofundar NA VIDA.

Desde o micro até o macro, desde o DNA até o universo, desde a semente até a árvore, etc. Assim, estaríamos sensibilizando, fomentando a criatividade, a curiosidade perdida, o amor e o respeito pelo desconhecido. Estaríamos assim criando valores, despertando sentimentos, virtudes e tantas maravilhas que nos diferenciam das outras espécies.

Hoje acontece que se estuda para o mercado, mas este é inconstante, instável. Pode mudar de um dia para outro deixando atrás uma multidão de “imprestáveis”. A triste realidade do mundo é que muitos profissionais terminam sua carreira e logo passam para as filas dos desempregados e sobrevivem realizando tarefas que não exigem estudo nenhum. Esta situação tão comum em nossa sociedade produz um fracasso que e é o pior dos fracassos.

É o fracasso dos ideais da juventude. E uma sociedade sem ideais é uma sociedade morta. Necessitaremos uma educação diferente? A paz pode ser só uma palavra bem bonita, sonhada por poetas e idealistas, caso a educação continue tendo somente bases utilitárias. Estuda-se “para o mercado” e confunde-se “educação” com “instrução”.

Educar é criar no indivíduo uma forma de pensar que mais adiante dirija seu próprio comportamento.

A educação define-se como um meio de preparar às pessoas para se comportar de forma previsível, concordando com as costumes do grupo humano e os riscos que deve enfrentar. Logo, a educação se retroalimenta com aquilo que quer preservar. Da outra parte, instruir é proporcionar conhecimentos e só isso.

Mesmo que o conhecimento não subentende necessariamente formas de comportamento, é natural que haja uma íntima relação entre a educação e a instrução. O indivíduo aplicará os conhecimentos de uma ou outra maneira, segundo seja a forma de pensar que a educação lhe haja inculcado.

Se a pessoa adquire desde a infância uma educação guiada para o discernimento e não enclaustrada em velhos conceitos, se conseguirmos despertar sentimentos para amar a vida, aplicará os conhecimentos numa forma bem diferente de quem haja sido educado achando somente aplicação utilitária a todo conhecimento adquirido.

Existem muitas instituições e filosofias que trabalham por uma sociedade melhor, mas faltam estruturas para realizar uma educação integral. As maravilhas científicas e toda a evolução tecnológica, hoje nos permitem olhar um planeta Terra paradisíaco, mas o mundo se separa rapidamente.

De um lado se vai para o espaço ou o DNA.

De outro lado temos um panorama decadente.

Caso não se ponha uma urgência em cuidar as crianças de hoje, em 15 anos lamentaremos o irrecuperável.

Alicia Carabajal

Novembro de 2010