O humor é uma virtude acessória. Qualquer um pode desenvolvê-la (e isso não torna nem boa pessoa nem um patife) e é assim a modos que despretensiosa. Quer apenas rir e ser «engraçada». “É impolido dar-se ares de importância.
É ridículo levar-se a sério. Não ter humor é não ter humildade, nem lucidez, nem ligeireza; é ser demasiado cheio de si, é estar iludido consigo mesmo, é ser demasiado severo ou agressivo e, por isso, carecer sempre de generosidade, doçura, misericórdia.
Demasiada seriedade, mesmo na virtude, tem algo de suspeito e inquietante.” No meio, como convém à virtude, entre a seriedade e a frivolidade fica o humor, em que rio de mim e com os outros.
Não impede a seriedade, no que diz respeito aos outros ou às nossas obrigações para com eles, aos nossos compromissos, às nossas responsabilidades, até mesmo no que diz respeito à condução da nossa existência. Mas impede de nos iludirmos ou de ficarmos demasiado satisfeitos. Se podemos rir de tudo, não podemos fazê-lo de qualquer maneira.
E nisso, o humor distingue-se da ironia – porque ele ri de si próprio, do absurdo que reporta a si mesmo; ela ri-se dos outros e quer fazer-se valer pela troça ou pela acusação. A ironia, muitas vezes, rebaixa o outro e nunca é generosa. Ri do outro. O humor ri de si, ou do outro como de si, e sempre se inclui, em todo caso, no disparate que instaura ou desvenda.
Não que o humorista não leve nada a sério (humor não é frivolidade). Simplesmente, ele recusa levar-se a sério a si mesmo, ou ao seu riso, ou à sua angústia.
O humor vale pela transmutação que opera, da tristeza em alegria, do desespero em sorriso; porque desactiva (faz off) à seriedade excessiva e possibilita a coragem para lidar com o que até magoa ou incomoda. Por outro lado, o humor é uma conduta de luto - de aceitar aquilo que nos faz sofrer - e, por isso, cura, ajuda a viver, liberta.
Tem um reconhecido valor terapêutico - mas julgo poder afirmar que tem reconhecido valor para a vida.
O humor põe em causa... sobretudo, a verdade de alguma ausência de sentido das coisas, e por isso relativiza e distancia. Portanto, também nos liberta.
“O que seria do amor sem alegria?
O que seria da alegria sem o humor?”.
Pequena virtude, acessória, estranha, risonha,...