GRATIDÃO

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GRATIDÃO

DEZ

A cura dos dez leprosos realizada por Jesus, ofereceu oportunidade ao Mestre divino de focalizar a importância da gratidão.

Apenas um agraciado regressou para Lhe agradecer e a indagação de Cristo foi uma reprimenda aos ingratos:

“E os outros nove, onde estão? (Lc 17,17).

A lembrança do benefício recebido é o traço mais precioso do reconhecimento. Foi o que aconteceu com aquele miraculado, que embora não fosse judeu, veio manifestar seu louvor ao seu grande benfeitor. Deve-se observar que o samaritano agradecido recebeu uma outra graça, pois Jesus lhe disse: “Vai em paz”, ou seja, o repletou de eutimia, tranqüilidade, felicidade.

Ganhou também um elogio: “Tua fé te salvou”!

Os tesouros divinos têm duas chaves: uma aurífera que os abre, isto é, a gratidão; outra de ferro que os fecha, ou seja, a ingratidão.

Além disto, a gratidão é uma marca de grandeza interior, é gesto do agradecimento que enobrece, uma vez que o espírito agradecido impede a memória de olvidar dons recebidos, tornando-o sensível, capaz de perceber as maravilhas divinas espalhadas mundo todo e os favores que advêm do próximo. Trata-se de ter os olhos abertos e perto de um magnânimo coração.

Um simples pensamento de gratidão dirigido ao céu é a melhor de todas as preces e, por isto, Jesus perguntou: “Não houve quem voltasse para dar glórias de Deus a não ser este estrangeiro”? Cristo valorizou aquela atitude cortês a qual mostrou que aquele leproso não apenas recuperou a saúde do corpo, mas também mostrou que possuía uma boa saúde emocional, uma acurada sensibilidade capaz de captar a generosidade alheia.

Com efeito, a gratidão sufoca as emoções negativas e confere um sentimento de bem estar durável, dado que é indício de um total equilíbrio psicossomático. De fato, o ingrato é sobretudo um orgulhoso, vício que infecta terrivelmente a alma e fecha a porta a novos favores quer de Deus, quer dos homens.

Tanto isto é verdade que a Virgem Maria no seu cântico gratulatório afirmou que o Todo-Poderoso tinha olhado para a humildade de sua serva e fez nela maravilhas.

A gratidão é uma espécie de júbilo que jorra nos corações nobres numa resposta luminosa diante da mercê recebida e que se traduz em palavras e gestos significativos para com o benfeitor. Foi o que aconteceu com Maria: “Minha alma rejubila no Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador”. Isto se torna ainda mais veementemente notável quando o favor foi feito sem segundas intenções pautadas por interesses.

É o que acontece sempre da parte de Deus que mimoseia seus filhos generosamente, mas só as almas dignas sabem, de fato, Lhe manifestar seu reconhecimento. Assim procedia também o apóstolo Paulo, o qual assimilou bem a doutrina do Mestre divino, afirmando inúmeras vezes em suas cartas:

“Dou graças a Deus” (Filêmon 4; cf. 1 Cor 1, 4; Filip 1,3; 2; Tm 1,3; 2 Ts 2, 13).

Aos Tessalonicenses doutrinava: “Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito” (1 Ts 5,18).

No Antigo Testamento, além de inúmeras passagens nos salmos, ressalte-se o que o arcanjo Rafael aconselhou a Tobias: “Bendizei ao Senhor sobre a terra e daí graças a Deus”( Tb 12, 20).

Além da ação de graças ao Ser Supremo, doador de todos os bens, a melhor maneira do cristão se mostrar agradecido é pela correção de vida na obediência aos mandamentos e a tudo que Jesus ensinou.

Uma vida de amor a Deus é manifestação concreta de que se valoriza o que dele se recebe a cada hora. A psicologia mostra a relação íntima que existe entre o amor e a gratidão. A dileção supõe previamente o reconhecimento e é aumentada pelo mesmo, pois o agradecimento brota dos corações que sabem amar. Por outro lado só quem ama distribui benefícios, como acontece com Deus.

Nos egoístas, insensíveis, interesseiros, indiferentes nunca brota a flor da gratidão.

Sêneca, filósofo pagão, afirmou:

“Só os espíritos bem formados são capazes de cultivar a gratidão”.

Miguel de Cervantes, com razão, asseverou:

“É de gente bem nascida agradecer os benefícios recebidos e um dos pecados que mais ofendem a Deus é a ingratidão”.

Ludwig Börne lembra:

“Quem é verdadeiramente agradecido passa além do benefício para se lembrar unicamente do benfeitor”.

Cumpre se acrescente que a gratidão não é uma dívida de justiça. É, sim, um débito de honestidade. É devida não só a Deus, mas também aos pais, à pátria, aos governantes, a todos os benfeitores. A máxima ingratidão para com Deus é o pecado, o desprezo de sua Santa Lei.

Aos pais a gratidão deve se manifestar não tanto em palavras, mas na reverência contínua, no amparo ininterrupto, na prece cotidiana; aos mestres, pelo respeito e acatamento de suas instruções; à pátria, pelo devotamento cívico, colaborando o cidadão na melhoria da sociedade; aos governantes, através da prece que os iluminará e envolverá nas benesses divinas.

Tudo isto é entender bem a lição de Jesus ao recriminar a atitude dos nove leprosos ingratos.

É preciso que se lembre sempre que receber um benefício é bom, agradecer ao benfeitor é sublime.